Queda do presidente da Caixa: o que diz a psicologia sobre o assédio no ambiente de trabalho
Mestranda em Psicologia pela UFMG e pesquisadora sobre assédio moral no trabalho conversou com o programa Conexões
O presidente da Caixa Econômica Federal, que estava no cargo desde o início do atual governo, pediu demissão após ter seu nome ligado a denúncias de assédio moral e sexual. Após revelação de que Pedro Guimarães é investigado pelo Ministério Público do Distrito Federal por abusos, ele deixou a chefia do banco na última semana. Uma reportagem do portal Metrópoles apresentou relatos de funcionárias da instituição que afirmam terem sido vítimas de Guimarães. Entre as condutas atribuídas ao ex-presidente da Caixa estão tocar na cintura e no pescoço de funcionárias e pedir que algumas delas levassem itens ao quarto dele nos hotéis durante viagens de trabalho. Há também denúncias que datam de 2021, quando ele foi acusado de assédio moral por ter feito subordinados “pagarem flexões” durante um evento de fim de ano. O comandante do banco chegou a ser notificado pelo Ministério Público do Trabalho, que recomendou que ele não repetisse o episódio. Caso o MP do Distrito Federal, que o investiga agora, conclua que as novas denúncias configuram assédio e importunação sexuais, Guimarães pode ser processado em juízo, respondendo por crimes que têm pena de 1 a 5 anos de prisão. A investigação corre em sigilo e a nova presidenta da Caixa, Daniella Marques, afirmou que vai se empenhar para que as denúncias sejam investigadas, pretendendo colaborar com todos os órgãos envolvidos.
O caso traz à tona o debate sobre o assédio moral no trabalho, uma realidade presente no Brasil, em especial para as mulheres. Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Laudes Foundation, divulgada neste ano, entrevistou mil mulheres e 500 homens em todas as regiões do país em 2020. Os resultados revelaram que 76% das trabalhadoras já sofreram violência e assédio no trabalho. No mesmo levantamento, 92% das pessoas entrevistadas concordaram que mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de trabalho que os homens. O relatório chama atenção para a Convenção 190, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), tratado que define padrões legais e éticos e contém recomendações para o enfrentamento da violência e do assédio contra trabalhadoras e trabalhadores. Ela entrou em vigor em junho de 2021, foi assinada por pelo menos 10 países, o Brasil não é um deles.
A produtora Enaile Almeida, conversou com a Ana Paula Ribeiro Manduca, servidora técnico administrativa em Educação da UFMG, graduada em Psicologia pela PUC Minas e Mestranda em Psicologia pela UFMG, onde pesquisa sobre assédio moral no trabalho. A entrevista foi ao ar no programa Conexões, onde pesquisadora abordou as consequências do assédio do ponto de vista psicológico e ainda apontou formas de combate e o papel das instituições na melhora desse cenário.
Ouça a conversa completa com a produtora Enaile Almeida:
Para saber mais sobre o assunto e saber como identificar e denunciar, o Tribunal Superior do Trabalho e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho criaram a Cartilha de Prevenção ao Assédio Moral, que pode ser acessada pelo site tst.jus.br/assedio-moral. Você também pode buscar pelos mecanismos de denúncia dentro da própria empresa ou órgão do serviço público.