Riscos do coronavírus para população indígena
Professora da Escola de Enfermagem da UFMG alerta para as dificuldades de acesso dos indígenas ao sistema de saúde
No Brasil, a pandemia do novo coronavírus ameaça também a vida de grupos indígenas. Até está terça-feira (14), pelo menos sete casos de infecção foram confirmados em aldeias localizadas em três estados do país. Ao menos dois indígenas já morreram pela Covid-19.
No mês passado, a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já havia divulgado uma nota cobrando do governo federal um plano de ação emergencial para proteger esse grupos. O Ministério Público Federal (MPF) também recomendou medidas a serem realizadas pelo governo federal e por estados e municípios. Segundo a recomendação divulgada pelo MPF, o “risco de genocídio dos povos indígenas reclama ações emergenciais dos órgãos e entes públicos”.
Para a professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Lívia de Souza Pancrácio de Errico, os povos indígenas já vêm sofrendo uma série de ameaças no Brasil, como a liberação da exploração mineral em seus territórios, e agora com o coronavírus a situação se complica ainda mais. "Até o acesso ao atendimento médico é muito difícil". A afirmação foi feita durante entrevista concedida ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, na última quarta-feira, 15. Lívia Errico tem várias pesquisas e ações na área de saúde indígena.
Ela criticou as ações governamentais voltadas para os indígenas diante do cenário de pandemia. “A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), criou um comitê emergencial para acompanhar a evolução da pandemia nos territórios indígenas, mas a gente observa que na composição desse comitê não tem a presença de indígenas, apenas técnicos do Ministério da Saúde. Isso mostra insuficiência na tomada de decisão, porque como eles vão compartilhar essas decisões e entender os processos de cada território de cada população indígena?”.
A professora avalia ainda que a saúde indígena é pensada apenas na dimensão da atenção primária, mas a pandemia requer atenção terciária, de alta complexidade, o que pode provocar gargalos. "Quanto mais distante dos centros urbanos de referência, mais dificuldade as populações terão para acesso a esses leitos. A gente já vê isso em Manaus, que tem apenas um hospital de referência para atender a região toda.”