Na ativa aos 70 anos, 50 deles vivenciados como professor de biologia e coordenador pedagógico de escola de educação básica, o professor Olavo Campos acompanhou todas as mudanças de processos seletivos realizadas pela UFMG, desde seu primeiro vestibular integrado, em 1969 – para ingresso em 1970 –, até 2013, quando a Universidade preparava e aplicava seus próprios vestibulares. O professor também testemunhou a adesão da UFMG ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2011, e ao Sisu, a partir de 2014.

E no último sábado (24), durante a Mostra Sua UFMG, Campos, que é graduado em Medicina e em Pedagogia pela UFMG, retornou ao campus Pampulha para acompanhar, juntamente com outras centenas de professores da educação básica, a apresentação de mais uma oportunidade de ingresso nas graduações da principal universidade pública do estado, o Seriado UFMG. 

A nova modalidade de seleção foi apresentada em três palestras ao longo do dia, pelo pró-reitor e pela pró-reitora adjunta de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira e Maria José Flores. As três sessões reuniram cerca de 700 professores no auditório da Reitoria.

“A UFMG é modelo na produção de seus processos vestibulares, e essa é uma ótima proposta, que vai estimular os alunos a estudar mais durante todo o ensino médio e não apenas no terceiro ano. Além disso, o Seriado UFMG será muito bom para os mineiros, porque o Enem traz muitos estudantes de fora, que acabam desistindo e gerando vagas ociosas. Já temos experiências positivas de seleção seriada com as Universidade Federal de Juiz de Fora e a Universidade de Brasília”, afirmou Olavo, carinhosamente chamado de “Kafunga” por colegas e alunos por ter o mesmo nome e guardar leve semelhança com Olavo Leite Bastos, lendário goleiro do Atlético nas décadas de 1930 a 1950 que depois se tornaria vereador e comentarista de TV em Belo Horizonte. Atualmente, Olavo Campos é professor de biologia e coordenador pedagógico do Colégio Santo Antônio.

Um de seus discípulos, Guilherme Loiola, 33 anos, atual supervisor pedagógico do Colégio Máximus (unidade Palmares), acrescenta que “o Seriado UFMG ajudará no maior engajamento dos estudantes e no trabalho interdisciplinar, especialmente diante do retorno da avaliação sobre artes e literatura”.

Contribuições que virão da sala de aula
Observações como essas, além de uma criteriosa análise da matriz curricular que será usada na avaliação dos três ciclos do Seriado UFMG, são esperadas dos professores da educação básica de todo o estado para a conclusão do documento que orientará a nova oportunidade de ingresso na UFMG.

Segundo o pró-reitor de Graduação, Bruno Soares, “ninguém melhor do que o professor, em sala de aula, para saber se a proposta de conteúdo no plano de curso para aquele determinado ano de ensino é factível ou não".

Por isso, o formulário on-line, que deverá ser respondido até quarta-feira, 28 de maio, começa pelo componente curricular lecionado pelo professor. Caso esteja envolvido em mais de um componente, o docente deverá preencher o formulário correspondente.

A professora Maria Flores, pró-reitora adjunta de Graduação, acrescentou que, desde o primeiro momento, a UFMG se preocupou em construir um documento coletivo, cuja versão preliminar aglutina contribuições de uma equipe de 32 professores da UFMG, sendo oito da educação básica.

“A matriz do Seriado UFMG tem como referência a BNCC [Base Nacional Comum Curricular], o Currículo Referência de Minas Gerais e o Plano de Curso de 2025 para o ensino médio. O documento final, que será referendado pela Câmara de Graduação da UFMG, contará, sobretudo, com as experiências dos professores em sala de aula", garantiu Bruno Teixeira na primeira das apresentações do dia.

Resgate do sentido de universidade
“O Seriado UFMG será um processo prévio ao Enem, podendo ser iniciado logo no primeiro ano do ensino médio. Esperamos que ele seja convidativo para os estudantes e, de alguma forma, contribua para resgatar o sentido de ensino superior junto à juventude. Mesmo que seja uma gotinha no oceano, precisamos começar a lidar com a desigualdade escolar”, defendeu Maria Flores durante sua explanação.

O vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, que percorreu algumas salas interativas e participou do talk show produzido pela Rádio UFMG Educativa e pela TV UFMG, identificou recepção positiva ao novo modelo de ingresso na comunidade escolar de Minas Gerais. “Ao criar mais uma alternativa de ingresso, estamos ampliando a inclusão. O novo modelo respeita a Lei de Cotas, assim como os outros processos seletivos da UFMG”, frisou o vice-reitor, lembrando que o processo de implantação do Seriado vem sendo conduzido em diálogo permanente com a comunidade escolar de Minas Gerais.

Alessandro Fernandes antecipou, ainda, que a primeira avaliação, marcada para 14 de dezembro, será realizada em outros lugares da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além da própria UFMG. “Possivelmente, vamos aplicá-la no Vetor Norte, no Barreiro, em Contagem e em outras localidades para facilitar o acesso dos candidatos", exemplificou. Os locais exatos ainda serão definidos.

A UFMG mantém o ingresso por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e os processos próprios de seleção para formações na área de artes e em três licenciaturas específicas: Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), Licenciatura em Educação no Campo (Lecampo) e Letras-Libras.