'Somos plurais, diversas e com potencial de gestoras', afirma reitora em congresso da Unifesp
Sandra Goulart Almeida foi uma das convidadas da mesa que discutiu a atuação das lideranças femininas na atual crise sanitária
"É preciso desconstruir conceitos e estereótipos que reduzem as mulheres ao papel de cuidadoras e relegam nosso potencial como gestoras", afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida na mesa Mulheres em posições de liderança, promovida pelo Congresso Acadêmico Unifesp 2020, na tarde desta terça-feira, 14.
Terceira mulher a ocupar a Reitoria da UFMG ao longo dos 93 anos da instituição e eleita há duas semanas para a vice-presidência da Associação das Universidades Grupo Montevidéu (AUGM), Sandra Goulart destacou que visões binárias sobre relações de gênero não fazem sentido do ponto de vista científico. “Essa visão estereotipada acaba por apagar a liderança e os valores das mulheres como gestoras e políticas", afirma.
Na conversa, a reitora falou sobre o "efeito tesoura", termo utilizado para descrever a realidade de muitas mulheres que, ao longo de suas carreiras, vão sendo expulsas das ciências e impossibilitadas de ocupar posições de liderança – fenômeno ainda mais evidente nestes tempos de pandemia. Na contramão desse fato, Sandra Goulart destacou a atuação de líderes femininas mundiais que implementaram estratégias exitosas de combate à crise da covid-19, caso das chefes do executivo de países como Nova Zelândia, Alemanha, Noruega e Taiwan. "Somos plurais e diversas", reforçou.
Linha de frente é feminina
"Mulheres estão à frente da ciência, na produção de vacinas e no combate ao covid-19", destacou a professora Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo, que mediou o debate. Como exemplo, ela citou o trabalho de Flávia Machado, coordenadora, no Hospital da Unifesp, das unidades de terapia intensiva (UTIs) para pacientes adultos em estado grave diagnosticados com a covid-19. Flávia é filha do professor emérito da UFMG Ângelo Machado, falecido recentemente.
Participante da mesa, a vice-presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Helena Nader, que é professora da Casa, citou, ainda, as cientistas brasileiras que lideraram o sequenciamento do coronavírus no Brasil, Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, da Universidade de São Paulo, e Nísia Trindade Lima, que atualmente preside a Fiocruz e tem trabalhado em parceria com pesquisadores da UFMG no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus.
Além de mencionar a valorização e representatividade feminina, Nader reforçou a necessidade de mais recursos para a educação e a ciência. Ela defendeu a urgência de descontingenciar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que sofreu perdas superiores a 80%. Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, apenas R$ 600 milhões de R$ 5 bilhões estão de fato liberados para custear a ciência no Brasil.
Também participaram da mesa Joana Miraglia, gerente geral do Instituto Superação – Formação pelo Esporte, e Vitória Louise Alves, integrante da Diretoria de Assistência Estudantil da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.