Tese desenvolvida na UFMG aponta conexão entre maus tratos a animais e violência contra pessoas
Doutora em Ciência Animal pela Universidade, Laiza Bonela Gomes defende a importância de pesquisas como a dela, que podem servir de base para políticas públicas
Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Veterinária da UFMG demonstra a relação entre maus tratos em animais e a violência contra pessoas em Belo Horizonte. Laiza Bonela Gomes é autora da tese A conexão entre as violências: um diagnóstico da relação entre os maus tratos aos animais e a violência interpessoal. O estudo tem como base a Teoria do Elo, que entende a violência como parte de um ciclo, em que abusos e maus tratos resultam do sofrimento ou testemunho de situações semelhantes durante a infância, principalmente no ambiente familiar do agressor.
Para identificar a correlação entre as práticas, a cientista contou com dados da Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna, da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, ao Idoso e à Pessoa com Deficiência, da Superintendência de Informações e Inteligência Policial (SIIP) e do Juizado Especial Criminal, no período de 2016 a 2020. Em 221 ocorrências de maus tratos aos animais registradas entre 2016 e 2018, 175 tinham suspeitos identificados. Entre os 205 indivíduos suspeitos, 77 tinham antecedentes criminais, dos quais 53,2% dos delitos eram de natureza violenta, como lesão corporal e relacionados à Lei Maria da Penha.
Quem detalhou sobre a pesquisa e seus resultados no programa Conexões desta quinta-feira,16, foi a autora da tese, a médica veterinária, doutora em Ciência Animal, com foco na conexão entre as formas de violências, e professora da Faminas, Laiza Bonela Gomes. A pesquisadora contou da época em que começou a se envolver com o tema, em 2015, quando teve acesso a dados iniciais em uma palestra e percebeu que eles apontavam para um problema real. As quatro fases do estudo foram detalhadas, além da diferenciação de maus tratos que são divididos em dois tipos: a negligência, quando não há uma ação direta nem mesmo a intenção de causar prejuízo à vítima, e a crueldade, que é uma ação com intenção de afetar o outro. Para a entrevistada, aí está a importância de estudar o ciclo da violência, pois é a única maneira de tentar rompê-lo.
Laiza Gomes também explicou a teoria do elo, que nasceu nos Estados Unidos, e comentou que como esse modelo ainda é explorado de maneira incipiente no Brasil. Gomes defendeu a importância de estudos como o dela, que podem servir de base para políticas públicas, e apontou a atuação do médico veterinário na conscientização, identificação e intervenção nos casos de violência.
“Ele pode intervir de várias maneiras, mas principal é conectando os órgãos responsáveis. Eu falo que se o médico veterinário tiver uma responsabilidade, uma sabedoria, ele se transforma numa ponte entre as polícias, secretaria de educação, de saúde, ele pode muito bem colocar a Zoonoses para dialogar com a Assistência Social, ele pode ser uma ponte para criar essa rede de enfrentamento, que uma proposta que pode funcionar. A gente já vê isso acontecendo em alguns princípios e que tende a se expandir, colocar os órgãos para dialogarem para que eles entendam que essa atuação conjunta é que de fato pode fazer com que as violências sejam prevenidas”, analisou.
Ouça a entrevista completa no SoundCloud.
A tese A conexão entre as violências: um diagnóstico da relação entre os maus tratos aos animais e a violência interpessoal, de Laiza Bonela Gomes, está disponível para leitura no site da Escola de Veterinária da UFMG.
Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas