Institucional

UFMG concede diplomas póstumos a estudantes mortos pela ditadura militar

Conselho Universitário também homenageará dois professores e dois técnicos que foram afastados de suas funções

Manifestação estudantil contra a ditadura militar
Manifestação estudantil contra a ditadura militar Arquivo Nacional / Fundo Correio da Manhã

Nesta terça-feira, 24, a partir das 19h, no auditório da Reitoria, no campus Pampulha, a UFMG concederá diplomas de conclusão de curso póstumos a quatro estudantes que perderam a vida na luta contra a ditadura militar. Além dos alunos, dois professores e dois servidores técnico-administrativos que foram exonerados ou demitidos também receberão homenagem. A concessão dos diplomas e homenagens tem o objetivo de promover uma reparação histórica àqueles que tiverem suas vidas e atividades acadêmicas impactadas por ações do regime militar.

Embora o estatuto da instituição não preveja a concessão de títulos post mortem, o Conselho Universitário da UFMG reconheceu, em sessão realizada em agosto deste ano, a importância de prestar publicamente seu respeito aos quatro alunos e deliberou pela excepcional confecção dos diplomas. Receberão os diplomas póstumos os estudantes Gildo Macedo Lacerda, que era estudante de Economia, Idalísio Soares Aranha Filho, que cursava Psicologia, Walkíria Afonso Costa, aluna de Psicologia, e José Carlos Novais da Mata Machado, discente do curso de Direito. 

Monumento no gramado da Biblioteca Universitária em homenagem aos estudantes mortos pela ditadura: os quatro troncos representam as vidas ceifadas pelo autoritarismo
Monumento no gramado da Biblioteca Universitária em homenagem aos estudantes mortos pela ditadura: os quatro troncos representam as vidas ceifadas pelo autoritarismo Foto: Ewerton Martins Ribeiro

Entre os quatro ex-membros da comunidade acadêmica que serão homenageados estão Elza Pereira e Irany Campos, servidores técnico-administrativos em educação, e Marcos Magalhães Rubinger (in memoriam) e João Batista dos Mares Guia, docentes da UFMG. Todos foram injustamente privados pela ditadura de exercerem suas funções na Universidade.

Os homenageados foram citados no relatório final da Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg), criada para auxiliar e dar suporte ao processo de investigação da Comissão Nacional da Verdade. Com esse gesto, a UFMG promove uma reparação histórica e reconhece que eles tiveram suas carreiras prejudicadas pelo regime militar.

A busca da memória e da verdade
Os laboratórios de História do Tempo Presente e de Estudos Antárticos em Ciências Humanas, juntamente com o Grupo Crítica e Dialética, todos da UFMG, também realizam amanhã, dia 24, e na quarta-feira, 25, o evento A difícil busca da memória e da verdade: as famílias das vítimas de ditaduras militares. 

Amanhã às 14h30, no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), no campus Pampulha, ocorre a mesa-redonda Os que resistiram às ditaduras e seus familiares: memórias em disputa, com os professores Tessa Lacerda, da Universidade de São Paulo (USP), e Daniel Lvovich, da Universidad Nacional de General Sarmiento, na Argentina. Tessa é filha do homenageado Gildo Macedo Lacerda, e a mediação da mesa será do professor Andres Zarankin, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG.

Já na quarta-feira, 25, também às 14h30, será exibido o filme Zé, que conta a história de José Carlos da Mata Machado, um dos estudantes que receberão o diploma póstumo na cerimônia de amanhã. A exibição contará com comentários do diretor do filme e professor da Escola de Belas Artes, Rafael Conde, e do professor da Fafich Eduardo Neves, com mediação da professora Miriam Hermeto, do Departamento de História da Fafich. 

Miriam Hermeto, professora do Departamento de História da UFMG, uma das entrevistadas da série ‘Rotas da ditadura’.
Miriam Hermeto, professora do Departamento de História da UFMGFoto: Breno Rodrigues | Rádio UFMG Educativa

Miriam conta que as violações de direitos e os prejuízos à democracia ocorridos durante o regime militar precisam ser reconhecidos como responsabilidades do Estado e da sociedade. "A justiça de transição no Brasil é lenta e parte importante dela é produzir conhecimento sobre o que foi a ditadura no país e quais as características específicas desse regime autoritário. Por isso, reunimos grupos de pesquisa que tratam do assunto para falarem sobre as ditaduras brasileira e latino-americana", diz.

A professora acrescenta que a UFMG tem obrigação ética e moral de não deixar que a ditadura seja esquecida. "A Universidade tem responsabilidade com a produção e com a divulgação do conhecimento relacionados à ditadura, visto que há especificidades do projeto de nação que tomou o poder naquela época. É necessário compreender as características desse período e as universidades precisam se envolver nesse processo", conclui.

Luana Macieira