Institucional

UFMG dá sequência a ciclo de debates sobre os cursos de graduação em licenciatura

Nos dias 4 e 25 de outubro e 6 de novembro, novas discussões, que visam à construção de política institucional de formação de professores, serão promovidas pela Prograd, Comfic e Collicen

II Ciclo de Debates realizado no primeiro semestre, na FaE, com pró-reitores de Graduação
II Ciclo de Debates realizado no primeiro semestre, na FaE, com pró-reitores de Graduação Foto: Jebs Lima | UFMG

Na próxima sexta-feira, 4 de outubro, terá início mais uma rodada do II Ciclo de Debates sobre as licenciaturas da UFMG com o objetivo de consolidar as discussões e dar prosseguimento à construção da política institucional de formação de professores na Universidade. Promovido pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd), Comissão para Discussão e Elaboração das Políticas de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica da UFMG (Comfic) e Colegiado Especial das Licenciaturas (Collisen), o encontro será realizado das 14h às 16h30, no Auditório B 301 do Centro de Atividades Didáticas (CAD 3) com o tema: A centralidade dos estágios na construção de uma política institucional de formação de professores da educação básica na UFMG: possibilidades e desafios da orientação.

No dia 25 de outubro, no mesmo auditório do CAD 3, o sétimo debate ocorrerá na parte da manhã, a partir das 10h, sobre A centralidade dos estágios na construção de uma política institucional de formação de professores da educação Básica na UFMG: a discussão de uma proposta.

No dia 6 de novembro, das 19h às 21h, no Auditório B106  do CAD 3, representantes das escolas de educação básica do entorno da UFMG vão discutir A centralidade dos estágios na construção de uma política institucional de formação de professores da educação Básica na UFMG: possibilidades e desafios da supervisão.

Balanço da primeira fase
As experiências, a organização dos currículos, o perfil dos estudantes e os desafios que permeiam a formação de profissionais do magistério foram compartilhados entre coordenadores e representantes dos colegiados dos Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs) e estudantes das 18 licenciaturas da UFMG em cinco encontros realizados, no primeiro semestre letivo de 2024, no âmbito do II Ciclo de Debates sobre identidade dos cursos de graduação em licenciatura.

Os professores reuniram-se com os pró-reitores de graduação e traçaram um panorama da formação de professores ofertada pela UFMG. As discussões foram centradas nas seguintes questões: “Qual formação proporcionamos, qual formação inicial de professores da educação básica queremos promover e quais propostas podem contribuir para a promoção dessa formação?”

Os 18 cursos de graduação em licenciatura – com mais de 5 mil estudantes – são responsáveis por 15% das matrículas dos 94 cursos de graduação da Universidade. A exposição da trajetória de cada curso revela uma diversidade e complexidade nas suas estruturas e organização curricular, ao mesmo tempo em que muitos pontos convergem para além das áreas afins.

Diferenças e afinidades
Alguns cursos foram criados junto com as suas próprias unidades acadêmicas, como a licenciatura em Educação Física, de 1953, enquanto outros, como Letras-Libras, terá sua primeira colação de grau neste ano. Muitas são as diferenças, seja pela forma de entrada, junto ou separada do bacharelado, seja pela organização curricular e especificidades do calendário escolar ou da língua, como explica a coordenadora da Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), professora Vanessa Tomaz. “A UFMG é pioneira na garantia do direito à educação superior para os povos indígenas, com o vestibular realizado nas aldeias e em três línguas, tendo em média 600 inscritos para 35 vagas. Mas nesses 15 anos de trajetória, com mais de 300 estudantes formados, com a maioria deles atuando como professor nas suas comunidades, algumas questões ainda nos desafiam”, afirmou.

Uma delas, segundo a professora, é o fechamento do semestre letivo do curso junto com o calendário da UFMG, que esbarra na complexidade da logística para a realização dos estágios, que envolve cerca de 140 estudantes de 100 comunidades indígenas diferentes, espalhadas pelo território de três estados atendidos pelo curso.

A complexidade dos cursos em alternância também é destacada pela professora Ana Paula Giavara, coordenadora do colegiado da Licenciatura em Educação do Campo. “São 105 estudantes ativos, originários de 12 municípios, a grande maioria de Icaraí de Minas e Capelinha. Estes dois núcleos se beneficiam das bolsas do Pibid. Mas, como todos os estudantes, majoritariamente, dependem do apoio da assistência estudantil, é importante que o financiamento alcance os estudantes dos outros dez municípios”. Ana Paula também explicita a riqueza das trocas que se dão nos momentos formativos promovidos durante o curso: “Mais de 78% de nossos estudantes já têm alguma experiência como professores na educação básica, o que enriquece as partilhas nas plenárias, nas jornadas pedagógicas e nos próprios trabalhos de conclusão de curso, vinculando o ensino à pesquisa e à extensão.”

Experiências exitosas e desafios

Professora Juliana Miranda Filgueiras apresentou a pesquisa com egressos da Licenciatura em História
Professora Juliana Miranda apresentou pesquisa com egressos da Licenciatura em História Foto: Jebs Lima | UFMG

Pesquisa realizada no âmbito do Departamento de História entre egressos do curso de licenciatura, em 2023, segundo a professora Juliana Miranda Filgueiras, revela o reconhecimento à boa formação inicial do curso de graduação licenciatura em História. Essa e tantas outras experiências bem-sucedidas são comprovadas pelas notas obtidas na avaliação dos cursos realizada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) do Ministério da Educação. Contudo, os desafios para a construção dos currículos dos cursos de licenciatura, a importância da interação com as escolas de educação básica e de um quadro de professores formadores adequado às demandas dessa formação específica aparecem em muitos dos relatos. 

Na avaliação do coordenador do Collicen, professor Tiago Jorge, os debates puseram em evidência os colegiados dos cursos de licenciatura, responsáveis pela elaboração dos projetos pedagógicos e pela gestão dos cursos e mostraram a necessidade de uma estrutura específica para a formação de professores da educação básica. “Para alcançar o objetivo inicial, proposto pelo II Ciclo de Debates, de construir uma identidade própria para as graduações em licenciatura, precisaremos atender às exigências de muitos colegiados de cursos, que demandam mais vagas de professores formadores que trabalhem a temática específica da docência. A Resolução do Conselho Nacional de Educação [de maio deste ano] traz uma série de mudanças curriculares nas licenciaturas, que indicam um cuidado maior com a formação de professores da educação básica”, explica.

Saberes profissionais
A busca por uma maior e melhor interação com as escolas de educação básica, espaço central para o desenvolvimento profissional de professores são o mote da realização dos Ciclos de Debates e estão entre as prioridades da UFMG, conforme capítulo inédito, dedicado à educação básica, no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2024-2029).

Para a presidente da Comissão para Discussão e Elaboração das Políticas de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica da UFMG (Comfic), professora Roberta Guimarães Corrêa, “esses debates consolidam movimentos anteriores que a Universidade já vinha fazendo para pensar e reafirmar o sentido da profissão docente a partir e com as escolas de educação básica”. Segundo a professora, que durante os debates também representou o curso de licenciatura em Química, “a interlocução com as escolas é o princípio norteador da política institucional em construção na UFMG, porque estimula uma discussão pedagógica e política sobre várias questões fundamentais, como a articulação dos conhecimentos pedagógicos e específicos da área de conhecimento para a construção dos saberes profissionais, o aprimoramento da dimensão prática da formação e o reconhecimento do papel formador desempenhado por professores da educação básica, quando recebem estudantes para realização de estágios ou atividades de extensão e pesquisa”.  

Contudo, os espaços escolares da educação básica, representados, especialmente pelas mais de 5 mil escolas públicas espalhadas pelos 853 municípios mineiros ainda não estão preparados para receber professores em formação de determinadas áreas específicas, como artes ou ciências sociais. “Nossos alunos enfrentam o desafio da polivalência, que contraria a formação específica em áreas como artes visuais, dança, música e teatro, além de não encontrarem professores regentes nas escolas de educação básica para supervisionarem seus estágios”, relata a professora Ana Cristina Carvalho Pereira, da Licenciatura em Dança. Junto com as colegas da área de Artes, ela defende a integração dos egressos também em espaços não escolares, como projetos sociais e diferentes frentes culturais, para garantia do direito de acesso às artes.

Na avaliação da professora da Letras – Libras, Mechelle Andrea Murta, primeira professora surda da UFMG, os desafios estão relacionados à infraestrutura da instituição, como a disponibilidade de tecnologias, que são empregadas desde o vestibular específico, cujas provas são realizadas por meio de vídeos, e também ao próprio ensino da Libras como primeira língua para estudantes surdos e ouvintes que compõem s turmas, uma vez que faltam professores especialistas.

Fim do modelo 3+1
Segundo o professor Júlio Emílio Diniz Pereira, da Faculdade de Educação, que ministrou a palestra de abertura do II Ciclo de Debates, a história dos cursos é marcada por mudanças na legislação, e a principal alteração trazida pelas novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Profissionais do Magistério (Resolução CNE/CP nº 4/2024), “é o fim definitivo do modelo de formação conhecido como 3+1, com a introdução de estágios a partir do primeiro período dos cursos”.

José Emílio Diniz Pereira:
José Emílio Diniz Pereira: "fim do modelo três mais um" Foto: Jebs Lima | UFMG

A ampliação da carga horária destinada a formação pedagógica, a necessidade de distribuir os estágios supervisionados desde o começo do curso e a introdução de 320 horas de atividades de extensão que devem ser cumpridas nas escolas de educação básica, na avaliação da pró-reitora adjunta de Graduação, professora Maria José Flores, “não significa apenas uma demanda por uma reorganização curricular, mas de que as licenciaturas exigem formação com identidade própria, principalmente por meio de uma política institucional que transcenda governos”.

Para o estudante de licenciatura em Química Arthur Benjamim Guimarães, representante dos discentes na Comfic e Collicen, “um dos maiores desafios das licenciaturas é a complexidade de seus currículos, que precisam refletir uma identidade comum e os desafios encontrados pelos professores nas salas de aula, como relações étnico-raciais, educação inclusiva, de jovens e adultos, educação sexual e a ambiental. Uma educação que seja, de fato, emancipadora”, resumiu.

“De fato, todos esses movimentos externos à Universidade, especialmente nos últimos cinco anos, geraram muitas incertezas, questionamentos e indignação. Por isso, precisamos dessa articulação para construir, coletivamente, uma política institucional que atenda às demandas dos licenciandos e das escolas de educação básica de nosso estado. Esse compromisso vem sendo consolidado desde a criação da própria Comfic, em 2019, passando pelo lançamento da Cátedra Magda Soares de Educação Básica e o PDI 2024-2029, até construirmos, coletivamente, ao longo dos próximos meses, a política institucional da UFMG para a formação de professores da educação básica”, acrescenta o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira.

 Enade das Licenciaturas
Outra novidade é a instituição, pelo Ministério da Educação, do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), específico para os cursos de licenciatura, denominado Enade das Licenciaturas.  A partir deste ano, os estudantes vão realizar provas teóricas para aferição do seu desempenho, além de provas práticas, com valor diagnóstico, sobre as características, condições e atividades práticas realizadas durante o curso.

Das 18 licenciaturas da UFMG, 13 vão participar do Enade 2024: Artes Visuais, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras (habilitação em Português), Matemática, Música, Pedagogia e Química. As instruções sobre o Exame podem ser consultadas no site da Diretoria de Avaliação Institucional.  

Assista aos debates realizados no primeiro semestre
Todos os debates foram transmitidos pelo Canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários no Youtube com tradução em Libras, onde estão disponíveis para consulta.

Abertura - Palestra do professor Júlio Emílio Diniz Pereira (FaE/UFMG) e Debate 1 (05 de julho de 2024)

Debate 2 - Cursos de licenciatura em Física, Matemática, Ciências Biológicas e Química (12 de julho de 2024).

Debate 3 - Cursos de licenciatura em Artes Visuais, Música, Dança, Teatro e Letras (26 de julho de 2024).

Debate 4 - Cursos de licenciatura em História, Filosofia, Pedagogia, Geografia e Ciência Sociais (9 de agosto de 2024).

Debate 5 - Cursos de licenciatura em Educação do Campo (LeCampo), Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), Letras Libras e Educação Física (23 de agosto de 2024)

 

Teresa Sanches