Vacina contra a Covid-19 envolve processos complexos que precisam ser seguidos à risca
Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, professor Flávio Guimarães explica como está a busca pela imunização contra o coronavírus e quanto tempo essa corrida pode demorar
Muitos especialistas estimam que a produção de uma vacina contra a Covid-19 deve levar ao menos um ano. Mas por que essa demora? E como está a corrida dos cientistas no Brasil e no mundo para desenvolver uma imunização eficaz contra o novo coronavírus? Em entrevista ao programa Conexões da Rádio UFMG Educativa, que foi ao ar nesta semana, o professor Flávio Guimarães, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e da Faculdade de Farmácia da UFMG, respondeu a essas e outras questões.
Flavio Guimarães é enfático ao ressaltar a importância de uma vacina para conter a Covid-19, mas ele também indica que isso pode demorar um pouco. Segundo o professor, mesmo os laboratórios na China e nos Estados Unidos que estão na frente na busca por uma vacina, só devem liberar o produto em 2021, principalmente porque a produção de um imunizante é cercada por ritos e processos complexos que precisam ser seguidos à risca.
Mesmo depois desses processos, ainda é preciso cumprir outras etapas. Guimarães explica que, antes de serem aprovados para uso em seres humanos, esses produtos precisam passar pelos estudos pré-clínicos, que são feitos em amostras de células e cobaias, nas bancadas de laboratórios. Se tudo der certo, o próximo passo são as pesquisas clínicas, que envolvem testes com seres humanos. Nesse estágio, o mais longo, é dividido em três fases de testes de segurança e eficácia do novo produto. Em cada uma das fases, o número de voluntários envolvidos aumenta, o que garante confiança e solidez ao processo.
Setenta frentes pelo mundo
Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem cerca de 70 iniciativas, que estão em diferentes estágios, visando à produção de imunização contra o novo coronavírus. No Brasil, há pelo menos dois laboratórios nacionais trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19, e um deles é o CT Vacinas da UFMG. O estágio desse trabalho na Universidade foi abordado em entrevista recente concedida pelo professor Ricardo Gazzinelli ao Portal UFMG. Mas são estudos ainda em fase bem inicial e que deverão passar por uma série de testes até que gerem resultados confiáveis. Por isso, o professor Flávio Guimarães acredita que, por aqui, a imunização contra o coronavírus só sairá em 2022.
Flávio Guimarães é um dos pesquisadores convocados pelos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para compor uma frente de pesquisas, o Núcleo Rede Vírus, sobre o novo coronavírus. “Trata-se de uma estratégia governamental de enfrentamento. Foram convocados para a linha de frente profissionais da medicina e infectologia, redes de atendimento ao paciente e de diagnóstico dos casos suspeitos do país inteiro. A rede de cooperação foi criada porque esses segmentos precisam de suporte de pesquisa, e ela funciona muito nos moldes da Rede Zika no Brasil.”
Segundo o pesquisador, os envolvidos participaram de reuniões presenciais e por videoconferência com autoridades governamentais ao longo da semana passada. A expectativa é que a força-tarefa apresente resultados em curto ou médio prazo (seis meses a um ano). A rede vai agir em várias frentes, e as atribuições serão divididas de acordo com o ponto forte de cada instituição. “A produção de testes diagnósticos, por exemplo, é expertise do CT Vacinas da UFMG", afirma o professor.