Institucional

Combate à desinformação é chave para retomada dos altos índices de cobertura vacinal

Tese foi defendida na mesa de abertura de congresso nacional sediado na UFMG que debate os desafios da política de imunização do país

Mesa de abertura contou com autoridades gestoras das esferas municipal, estadual e federal
Mesa de abertura reuniu autoridades gestoras de saúde das esferas municipal, estadual e federal Foto: Foca Lisboa | UFMG

As vacinas contribuíram para a erradicação de várias doenças, e talvez por isso mesmo as pessoas não se lembrem tanto da importância de se vacinar. Esse paradoxo foi exposto na manhã desta terça-feira, dia 21, pela professora Fernanda Penido Matozinhos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Vacinação (Nupesv) da Escola de Enfermagem da UFMG, durante a abertura do Congresso brasileiro: defesa da vacinação – desafios e estratégias. O evento reúne autoridades da gestão pública de saúde das esferas federal, estadual e municipal, pesquisadores da temática vacinal, estudantes e profissionais que trabalham com o tema.

Organizadora do evento, que prossegue até amanhã, dia 22, Fernanda Penido lamentou a redução dos índices de cobertura vacinal, apesar de os imunizantes serem seguros e de eficácia cientificamente comprovada. “A queda da cobertura também pode ser associada aos ataques sofridos pelo nosso Plano Nacional de Imunização (PNI), que foi esquecido nos últimos anos pelo governo anterior. Também precisamos destacar o papel exercido pela desinformação. As fake news podem ser atrativas, então é um desafio enfrentá-las. Na nossa cultura da pós-verdade, é urgente combater a desinformação e os movimentos anticiência e antivax”, defendeu a professora.

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Fernanda Matozinhos: combate à desinformação é essencial
Fernanda Penido: PNI foi atacado no governo anteriorFoto: Foca Lisboa | UFMG

O combate à desinformação para aumentar a cobertura vacinal também foi lembrado pelo secretário de Saúde de Belo Horizonte, Danilo Borges. Ele afirmou que, apesar de a capital mineira sempre ter apresentado bons índices de vacinação, as quedas recentes da cobertura no município trazem desafios para a gestão pública. 

“O óbvio precisa voltar a ser dito: as vacinas salvam vidas. Então precisamos atingir quem ainda hesita em se vacinar. Como as fake news correm rapidamente, o enfrentamento ao negacionismo precisa estar alinhando às estratégias que elaborarmos nos âmbitos municipal, estadual e federal”, disse Borges.

Edivaldo Farias Filho, presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), corroborou com a fala de Danilo. Ele relatou que os agentes de saúde municipais contam que é muito comum, ao visitar os domicílios, ouvir das pessoas que elas viram algum vídeo na internet, ou escutaram de algum familiar, que as vacinas poderiam fazer mal.

“Por isso, o trabalho de informar o cidadão é tão importante", ele salienta. "Precisamos usar a ciência para mudar essa percepção errônea que é, muitas vezes, produto da desinformação. Esperamos que as discussões desse congresso nos ajudem a resgatar o Brasil de antigamente, que tinha uma das melhores coberturas vacinais do mundo.”

Gestão pública e academia de mãos dadas
As autoridades presentes na mesa de abertura do Congresso brasileiro: defesa da vacinação – desafios e estratégias defenderam, ainda, que academia e gestão pública de saúde caminhem juntas para a elaboração de estratégias de ampliação da cobertura vacinal no país. 

Eder Gatti destacou atuação do Ministério da Saúde na vacinação
Eder Gatti: atuação do Ministério da Saúde será qualificadaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Eder Gatti Fernandes, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, afirmou que a solidez dos grupos de pesquisa brasileiros, aliada à união de esforços dos municípios, estados, governo federal e academia, vai ajudar o país a melhorar os índices de vacinação.

“Fazer o PNI funcionar é responsabilidade de todos os atores envolvidos, e as políticas públicas devem atuar em todas as esferas, uma vez que elas só funcionam juntas e com o olhar dos usuários dos serviços de saúde. Vamos aperfeiçoar nosso trabalho no Ministério da Saúde por meio da parceria firmada com a UFMG.”

A parceria citada pelo diretor se dará no âmbito do Observatório de Pesquisa e Estudos em Vacinação (Opesv), lançado na manhã desta terça-feira durante o congresso. O Opesv vai ampliar o escopo de atuação do Nupesv. “A intenção é que o grupo coordenado pela professora Fernanda Penido avalie o trabalho do Ministério da Saúde no que se refere à vacinação. É uma maneira de qualificarmos o nosso trabalho”, afirmou Gatti.

Reitora da UFMG lembrou aprendizado da pandemia
Reitora da UFMG lembrou aprendizado da pandemia Foto: Foca Lisboa | UFMG

UFMG em prol da vacinação
A atuação da Universidade em prol da vacinação foi lembrada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que destacou os trabalhos da UFMG no desenvolvimento da SpiN-Tec, vacina contra a covid-19 e primeiro imunizante de desenvolvimento 100% nacional. Ela citou uma fala de Ailton Krenak, proferida em um evento virtual da UFMG que ocorreu durante a pandemia. Krenak afirmou, então, que a sociedade não voltaria ao normal porque, caso isso ocorresse, ela não teria aprendido nada com tudo que passou no enfrentamento da covid-19.

“Aprendemos sobre a colaboração e a importância de cuidar do próximo. Nós nos vacinamos para nos proteger e também para proteger o outro. Defender a ciência, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a vacinação transformará o Brasil em um país com mais saúde e qualidade de vida”, disse a reitora.  

Para diretora da Escola de Enfermagem, Congresso pretende aumentar cobertura vacinal
Sônia Soares, diretora da Escola de Enfermagem: postos de vacinação durante a pandemiaFoto: Foca Lisboa | UFMG

A professora e diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, Sônia Soares, também destacou a atuação da UFMG durante a pandemia. Além do desenvolvimento de pesquisas que visavam à criação de um imunizante para a covid-19, a Universidade implementou postos de vacinação. "Somente no polo da Escola de Enfermagem, no campus Saúde, imunizamos mais de 18 mil pessoas. O Congresso que iniciamos hoje mostra que somos uma rede de colaboração pronta para enfrentar os desafios. Somos mais de 650 pessoas reunidas aqui para discutir o cenário da vacinação nacional e aumentar a cobertura vacinal”, concluiu.

Leia mais sobre os desafios da cobertura vacinal no país e a programação do congresso em matéria publicada aqui no Portal UFMG.

Zé Gotinha, símbolo das campanhas de vacinação brasileiras, esteve presente no Congresso
Zé Gotinha, símbolo das campanhas de vacinação no Brasil, também participou da abertura do congresso Foto: Luana Macieira

Luana Macieira