Institucional

Em videocartão de fim de ano, UFMG conclama comunidade a ‘não parar de sonhar’

Na produção audiovisual, corais da Universidade cantam música que Gonzaguinha gravou durante a abertura democrática brasileira

Neste ano, o desejo de boas festas da UFMG para a sua comunidade será diferente. Em vez de um cartão tradicional, o Centro de Comunicação (Cedecom) da Universidade produziu um videocartão musical para ser enviado aos públicos interno e externo da instituição. Nele, quase quatro dezenas de integrantes dos vários corais da UFMG cantam Nunca pare de sonhar (Sementes do amanhã), música em que Gonzaguinha (1945-1991) nos convoca a ter “fé na vida, fé no homem, fé no que virá”, assim como a “não ter medo, que esse tempo vai passar”. Esta é a primeira vez que a Universidade faz um vídeo como cartão de boas festas.

“Este foi um ano muito difícil, com muitas dúvidas e incertezas, e tivemos que ter muita força, muita resiliência para superar os enormes desafios que nos foram apresentados”, explica Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da UFMG. Nesse sentido, a reitora — que é professora da Faculdade de Letras — destaca a relação entre a letra da música de Gonzaguinha e o momento vivido atualmente pela Universidade e pelo país. “Os desafios não cessaram: não há dúvidas de que há ainda muito por vir. Contudo, a nossa principal luta permanece: a construção de uma universidade pública, gratuita, de qualidade, inclusiva e de relevância social. Esta é a nossa missão, uma missão que está diretamente associada ao ideal de uma sociedade melhor, mais igualitária, uma sociedade para todos e todas”, disse a reitora.

Para Sandra, o texto e o vídeo do cartão compõem “uma mensagem que confirma a nossa crença no ser humano para, por meio da solidariedade, da coletividade e da diversidade — como as muitas vozes que compõem o coral que executa a bela canção de Gonzaguinha —, atuar em prol de uma vida melhor”. Em nome da Universidade, a reitora também agradeceu à família do músico por ter concedido à UFMG “a honra e o direito” de usar a canção em sua peça de fim de ano. “Desejo que, juntos, tenhamos um 2020 com muita esperança, afeto, paz, alegria e, sobretudo, resiliência. Como diz a canção, nunca devemos nos entregar; devemos, sempre, ‘renascer com as manhãs’”, convoca a dirigente.

Para germinar
Mariana Gonzaga, filha de Gonzaguinha, tem alguns motivos a mais para se emocionar com a escolha da música de seu pai para tematizar o videocartão de fim de ano da Universidade: é que ela é professora do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da UFMG, e o disco de 1984 em que a música foi gravada – chamado Grávido – leva na capa justamente uma foto dela junto ao pai. “Na época, o meu pai produziu dois discos seguidos, Grávido e Trabalho de parto. São discos que remetem a processos de ‘gestação’: gestação de uma pessoa, gestação de um novo país. Digo isso porque Grávido tem uma ligação forte com a campanha das Diretas Já. De alguma forma, o disco é uma homenagem a esse processo. Seu encarte, por exemplo, traz uma pintura do povo nas ruas”, conta Mariana.

A professora lembra que, ao se casar com sua mãe, belo-horizontina, o carioca Gonzaguinha veio morar na cidade e “abraçou Minas Gerais”. “Acho que o meu pai ia ficar muito feliz com essa homenagem. Ele era apaixonado por Belo Horizonte, e nós frequentávamos muito o campus Pampulha, porque morávamos aqui do lado”, diz a professora. Para ela, a música escolhida sugere um bom direcionamento para o tempo que vivemos no Brasil. “Ela traz essa perspectiva de que a gente precisa pensar e se mobilizar; ter calma, mas de uma forma ativa. E o disco fala sobre isso. Penso que não poderia haver mensagem melhor para nós, professores, funcionários e alunos da UFMG. Ninguém melhor que nós, da Universidade, para termos fé e buscarmos ser o instrumento da mudança”, conclama a professora.

Trabalho conjunto
O videocartão foi idealizado pelo Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG, produzido pela TV UFMG e gravado no auditório da Escola de Música da Universidade. Segundo Marcílio Lana, coordenador executivo do Cedecom, a ideia era produzir “uma narrativa audiovisual simples, de conteúdo de fácil assimilação e consumo, com grande potencial de compartilhamento e interatividade”, mas que ao mesmo tempo traduzisse o sentimento da comunidade da Universidade nesta virada de ano. “O objetivo dessa peça de comunicação institucional é desejar um ano de 2020 com esperança, ternura, paz, alegria e resistência. Desejar um ano no qual possamos trabalhar por um projeto coletivo e por uma sociedade melhor. Um ano em que se possa acreditar”, diz o coordenador.

Os corais que executam a música fazem parte do Núcleo de Música Coral da UFMG, um projeto de extensão que, criado há mais de duas décadas, reúne os principais coros da Universidade. O Núcleo é coordenado pelo maestro Arnon Sávio Reis de Oliveira, professor do Departamento de Teoria Geral da Música da Escola de Música. Arnon foi o responsável pela coordenação musical do projeto do videocartão e pela regência geral da gravação.

O arranjo da música para coral foi feito por Márcio Miranda Pontes, regente de Belo Horizonte, cidade em que o principal campus da UFMG está sediado. Em seguida, o professor do Departamento de Instrumentos e Canto da Escola de Música da UFMG Rafael Martini fez a produção musical do projeto, promovendo a entrada do pianista Eduardo Amendoeira no arranjo, o escalonamento dos naipes e corais e os demais ajustes necessários à gravação. Esta, por sua vez, foi realizada por Fernando Braga Campos, professor do mesmo departamento e coordenador do laboratório de produção musical da Escola de Música.

Gravação do vídeo-cartão no auditório da Escola de Música da UFMG
Gravação foi feita no auditório da Escola de MúsicaOlívia Resende / UFMG

Ewerton Martins Ribeiro