Pesquisador da Face usa metodologia estatística para corrigir estimativas de mortes por Alzheimer no Brasil
Aumenta a expectativa de vida, e cresce a taxa de envelhecimento das populações. A demência é fator relevante de redução da sobrevida dos idosos, e a Doença de Alzheimer aparece como o tipo mais frequente desse mal. E mais: é grave o quadro de subnotificação relacionada às mortes em países em desenvolvimento, como o Brasil.
Dados como esses compõem a realidade que motivou pesquisa do colombiano Juan de Jesús Sandoval, que, em abril, defendeu tese na Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Ele estabeleceu metodologia de ajuste para estimar com maior grau de credibilidade a mortalidade adulta por demência resultante da Doença de Alzheimer, no Brasil, de 2009 a 2013.
Graduado em matemática – ênfase em estatística –, com mestrado em epidemiologia e, agora, doutorado em demografia, Sandoval aliou conhecimentos nas três áreas de formação para enfrentar a dificuldade representada pela falta de dados confiáveis no sistema de saúde brasileiro.
Ele lançou mão da estatística bayesiana para correção de registros e chegou a números que relacionam de forma consistente o nível educacional à mortalidade que se pode atribuir à Doença de Alzheimer. Os resultados informam também que, diferentemente do que indicam estudos anteriores, não há diferença significativa entre o número de mortes de homens e o de mulheres.
Os métodos bayesianos atuais – inspirados em teorema do inglês Thomas Bayes (1701-1761), que trata as incertezas de forma probabilística – possibilitam misturar os dados empíricos a fontes externas com a finalidade de promover correções naqueles em que haja evidência de insuficiência de informações.
Utilizando informação externa no modelo bayesiano, construída mediante distribuições de probabilidade a priori, o resultado da estimativa final das taxas de mortalidade se aproxima mais da realidade do fenômeno do que aquele calculado somente com base nos dados empíricos.
"Em nosso trabalho, captamos a informação externa pela meta-análise em estudos feitos majoritariamente em países desenvolvidos, para cruzamento com os dados empíricos do Datasus, via métodos bayesianos completos. Nosso estimador das taxas de mortalidade pela doença de Alzheimer se oferece, então, como atualização do estimador clássico", explica Juan Sandoval.
Escolaridade previne
Segundo o pesquisador, foi possível confirmar o aumento exponencial da tendência à morte atribuível a Alzheimer com o passar da idade e a relação direta entre a escolaridade do idoso (que ajuda a explicar hábitos e qualidade de vida) e taxas de mortalidade. Ele comenta que um terço das pessoas com baixa escolaridade que vão a óbito no Brasil podem ter a causa de sua morte vinculada à demência por Alzheimer.
"Estudos mostram que maior reserva cognitiva é fator de prevenção para diversos tipos de demência. E os novos dados revelam que escolaridade mais alta diminui a taxa de mortalidade por essa causa", diz.
Sandoval ressalta que, assim como faltam dados que relacionem a causa de morte à demência, e especificamente a Alzheimer, entre outras razões pela falta de acompanhamento especializado do paciente, também são precários os registros acerca da escolaridade dos pacientes que morrem.
"Aí entra a importância da inferência bayesiana", salienta. "A metodologia possibilitou fazer ajustes nas informações colhidas em 27 capitais brasileiras, que oferecem dados mais precisos, também ajudando a estendê-los para o restante do território."
O pesquisador reconhece, entretanto, que o procedimento da imputação de dados tem limitações, como a suposição inevitável de que a distribuição de probabilidades para nível de estudos era a mesma para vivos e mortos, utilizando informação censitária. "Isso, provavelmente, afetou as estimativas finais de taxas de mortalidade nos estratos educacionais mais baixos, mas, sem dúvida, foi melhor que desconsiderar em minha análise os dados obtidos", diz Ivan Sandoval.
Alzheimer estimado
- De 2009 a 2013, foram estimadas 51.307 mortes atribuíveis a demências, o que corresponde a 6,58% dos óbitos. Nesse universo, a prevalência do Alzheimer foi de 72%.
- Morreram com Alzheimer 161,5 a cada 100 mil pessoas em risco.
- Uma pessoa com 75 a 79 anos de idade tem risco de desenvolver e morrer com Alzheimer 7,5 vezes maior que uma de 65 a 69 anos. Uma pessoa com mais de 85 anos tem risco 66 vezes maior.
- Alguém com mais de 64 anos de idade sem estudos tem oito vezes mais chances de desenvolver e morrer com Alzheimer que alguém com alto nível de escolaridade.
- Na faixa de 65 a 69 anos, morreram com Alzheimer 168 pessoas a cada 100 mil em risco, no grupo com menos estudos; entre aquelas com mais estudos, a taxa se reduz em até 26 pessoas por 100 mil.
- A população acima de 65 anos sem estudos representou 27,5% de todas as mortes por Alzheimer.
Tese: Mortalidade adulta atribuível à demência devido à Doença de Alzheimer, Brasil 2009-2013: uma perspectiva bayesiana
Autor: Juan de Jesús Sandoval
Orientador: Cassio Maldonado Turra
Coorientadora: Rosângela Helena Loschi
Defesa: 29 de abril de 2016, no Programa de Pós-graduação em Demografia