Estudo caracteriza evolução geomorfológica dos sistemas fluviais do Quadrilátero Ferrífero
Resultados de pesquisa desenvolvidas por professores do IGC foram publicados em artigo na Earth-Science Reviews, revista de destaque na área de geociências
A sistematização sobre a evolução geomorfológica dos sistemas fluviais do Quadrilátero Ferrífero (QF), região de Minas Gerais, é tema de estudo desenvolvido pelos professores Luiz Fernando Barros e Antônio Magalhães, do Departamento de Geografia, do Instituto de Geociências (IGC).
O trabalho é desdobramento da pesquisa de doutoramento do professor Luiz Fernando. Os pesquisadores caracterizaram as fases da evolução do relevo que decorreram dos movimentos dos rios, há algumas centenas de milhares de anos. Segundo os professores, essas modificações podem ser fortes indicadores das influências tectônicas e climáticas na paisagem no Brasil.
O artigo Late quaternary landscape evolution in the Atlantic Plateau (Brazilian highlands): tectonic and climatic implications of fluvial archives foi publicado na revista Earth-Science Reviews, periódico da área de geociências com fator de impacto 9.530, que terá acesso livre até 6 de agosto.
Incisão fluvial
Como explica Luiz Fernando Barros, incisão fluvial é o nome dado ao lento processo de escavação do relevo pelos cursos d'água, que tende a aprofundar os vales. “Nesse processo, há fases mais aceleradas. Outras são mais lentas, quando o rio acumula sedimentos. Por isso, ao longo das encostas, é possível encontrar remanescentes desses sedimentos, que fornecem pistas sobre a história da incisão fluvial, muito influenciada por questões tectônicas, climáticas e geológicas”, detalha.
De acordo com Luiz Fernando, o trabalho de reconstrução geomorfológica com base em depósitos fluviais é pouco comum no interior continental, em rios que estão em relevo serrano, como Minas Gerais. Isso porque esses depósitos só costumam ser abundantes ao longo de grandes rios ou em regiões costeiras. “Mas o trabalho mostra que, mesmo com poucos fragmentos dessa história de evolução, é possível reconstituir os principais eventos de transformação da paisagem”, comenta o professor.
A região do QF é um domínio geomorfológico muito importante de Minas Gerais, razão pela qual seu estudo desperta interesses econômicos, socioambientais e históricos. De acordo com Luiz Fernando Barros, muitos trabalhos foram dedicados à compreensão do processo de transformação movido pela trajetória geomorfológica dos cursos d’água. A maioria deles, no entanto, tem foco em apenas um ou dois vales fluviais.
“As conclusões obtidas a respeito de apenas um vale podem ser razoáveis. Mas, quando se faz a comparação com outros vales, são encontradas incoerências. Meu esforço foi de revisitar o que já havia sido feito e levantar novas informações, visando constituir uma síntese regional”, explica.
O professor afirma que o relevo regional no QF é jovem, ou seja, os cursos d’água ainda são bastante ativos. “Alguns depósitos têm pouco mais de 50 mil anos e estão situados a mais de cinquenta metros acima do nível dos rios atuais. Isso mostra que a incisão fluvial é um processo mais rápido do que se imaginava”, observa.
De maneira geral, resume Luiz Fernando, após um ganho de energia por processos tectônicos, a incisão fluvial teve seu ritmo controlado por fases climáticas. Nas fases mais frias e de clima mais seco, os vales fluviais ficam desprotegidos. "Isso favorece a erosão, e muito material sedimentar é levado para o fundo", afirma o professor. Por isso, os cursos d’água, nesses períodos, não conseguem desempenhar a incisão fluvial. “Já nos períodos mais úmidos e mais quentes, a vegetação estabiliza as encostas, a erosão diminui, e os cursos d’água se tornam capazes de remover os materiais em seu fundo e de escavar o próprio substrato rochoso”, contrapõe o pesquisador, sobre a construção da história do relevo nessas regiões.
Juntos, os autores se dedicam a projetos de pesquisa sobre o tema, desde 2006. O professor Antônio Magalhães, ainda em 1993, havia abordado o assunto durante sua pesquisa de mestrado.
O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).