Meio Ambiente

TV UFMG estreia 'Uma cidade mais verde', documentário sobre agricultura urbana

Produção focaliza projetos desenvolvidos em Belo Horizonte e destaca benefícios das hortas comunitárias e individuais

Existe espaço para a agricultura nas grandes cidades? O documentário Uma cidade mais verde” apresenta diferentes dinâmicas urbanas de produção agroecológicas em espaços públicos e privados de Belo Horizonte. 

Quem ajuda a contar essa história é a pesquisadora Diana Rodrigues, integrante do Grupo AUÊ! – Estudos em Agricultura Urbana, sediado no Instituto de Geociências da UFMG (IGC). Moradora da região Nordeste da capital, Diana visita semanalmente bairros vizinhos para acompanhar a produção de alimentos em agroflorestas e hortas comunitárias, regulamentadas pela prefeitura da capital como unidades produtivas, e em quintais produtivos particulares. 

Na Unidade Produtiva Tudo Saudável, localizada no bairro Vitória, Diana se encontra com José Ângelo da Silva, 69 anos, morador que viu a oportunidade de transformar um lote abandonado, por vezes usado como lixão, em uma agrofloresta, sistema de cultivo caracterizado pela combinação de plantas de diferentes espécies e portes, florestais e agrícolas, em uma mesma área.

Mutualismo
De acordo com  agricultor, que até os 15 anos residia na zona rural, o sistema agroflorestal possibilita uma produção mais saudável, porque as diferentes espécies de plantas trabalham juntas, uma ajudando a outra, para se proteger de “pragas” e “doenças”, sem demandar o uso de veneno. “Nós não usamos nenhum adubo químico, nenhum defensivo agrícola. É tudo feito com caldas naturais, quando há necessidade”, relata Seu Angelo, como é chamado por Diana, enquanto mostra com satisfação a diversidade de alimentos cultivados com o objetivo de suprir as necessidades de sua família.

O quintal produtivo de Veranilta Alves, 69 anos, também é livre de agrotóxicos. Ao passear pela horta de sua casa, Dona Vera, como é conhecida, mostra com prazer a diversidade de hortaliças, leguminosas e árvores frutíferas que produz. Envolvida desde pequena com o trabalho com a terra em Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha, a agricultora diz ter sentido falta de plantar após se mudar para Belo Horizonte, aos 24 anos. “Toda a vida eu gostei. Eu eu cheguei aqui e fui morar com uma amiga minha, num quartinho, mas eu sentia necessidade de plantar. Então eu comecei a plantar couve nessas  latas de tinta”, conta a agricultora. Anos mais tarde, após se mudar para o bairro Ribeiro de Abreu, teve a ideia de fazer do brejo no fundo da propriedade uma área de plantio. Gradualmente, a produção independente foi sendo ampliada, o que permitiu a Dona Vera comercializar produtos em várias feiras de Belo Horizonte. 

Casado com a horta
Não é necessário um passado rural para se tornar um agricultor urbano. Arnaldo de Jesus, 75 anos, é natural de Ubatã, na Bahia, e era pescador antes de se mudar para Belo Horizonte. Após desenvolver conhecimentos sobre a produção agroecológica em experiências de campo com o Movimento Sem Terra (MST), o pedreiro aposentado percebeu a oportunidade de acabar com o lixão próximo de sua casa e combater as queimadas que anualmente atacavam a mata ao redor. A atividade de recuperação deu origem à Unidade Produtiva Coqueiro Verde que é, hoje, apresentada como uma das grandes paixões de “seu Arnaldo”: “A mulher diz até que eu casei com a horta. Então, é bom demais. Eu me sinto saudável também, sabe?”, brinca. O orgulho de ver um terreno abandonado transformado em agrofloresta é destacado quando o agricultor cita a beleza de ver a variedade de alimentos que nutrem as pessoas e uma variedade de animais que visitam a horta. Em diálogo com Diana, Arnaldo comenta que “a agrofloresta é tudo. Aqui você come, alimenta e preserva a natureza. Antigamente, eu não entendia o que era isso. Mas hoje eu entendo que dá pra plantar, dá para preservar, tudo junto". 

Diana avalia os benefícios dessas formas de cultivo nas grandes cidades. Além das vantagens ambientais de restauração de áreas degradadas e de promoção de uma cidade mais verde, a pesquisadora destaca a melhoria da qualidade de vida dos agricultores urbanos e as vantagens para uma população que conquista soberania e segurança alimentar e nutricional: “Quando a gente trabalha com agricultura urbana, no conceito de agroecologia, sem o uso de veneno, com uma produção agroecológica, com insumos, como caldas naturais na questão do plantio, a gente garante uma alimentação saudável, no sentido de uma comida que não vai trazer nenhum dano à saúde de quem consome. E, ao mesmo tempo, permitindo que essa pessoa tenha uma soberania alimentar, que ela possa escolher o que comer e que tenha condições financeiras de adquirir aquela comida saudável, destaca.”

O documentário está disponível, no canal do Youtube da TV UFMG.


Ekobé: vida que vem da Terra

Uma cidade mais verde é um dos episódios da série Ekobé, projeto colaborativo produzido por sete canais universitários brasileiras: TV UFMG, TV UFG, TV UFMS, UnB TV, PUC TV Goiás e UEG TV. O termo “ekobé”, que da nome ao projeto, é de origem Tupi e significa “vida que vem da terra”. Focado nas múltiplas dimensões da ocupação humana do meio ambiente, a série documental explora desafios contemporâneos como o deslocamento de populações tradicionais, a expansão agropecuária e a especulação imobiliária. 

Cada documentário oferece uma perspectiva regional distinta sobre temas como agroecologia urbana e a resiliência comunitária após desastres. Concebida em 2023, a série foi exibida pela primeira vez em junho deste ano, durante o 25º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), realizado na cidade de Goiás (GO).