Institucional

UFMG estima gastos de R$ 1 milhão para mitigar impactos da Stock Car

Prejuízos incluem despesas com proteção de laboratórios e realocação de animais do Hospital Veterinário

As corridas da Stock Car aconteceram ao lado da Escola de Veterinária, o que ocasionou prejuízos de naturezas diversas
As corridas da Stock Car aconteceram ao lado da Escola de Veterinária, o que ocasionou danos de naturezas diversas Foto: Jebs Lima | UFMG

Desde que teve início a preparação da área em torno do Mineirão e do campus Pampulha para a realização da Stock Car, a UFMG já acumulou prejuízo de cerca de R$ 1 milhão. De acordo com a reitora Sandra Regina Goulart, o recurso que saiu do orçamento de manutenção foi necessário para custear a blindagem das portas do Biotério Central, a contratação de equipes de profissionais para monitorar animais silvestres na Estação Ecológica e animais gestantes no Hospital Veterinário, o transporte e a realocação de 15 equinos, seis bovinos e seis cães — que vivem no Hospital Veterinário —, entre outras providências para atenuar os efeitos negativos do evento para a Universidade.

A informação foi divulgada durante visita técnica das deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Bella Gonçalves (PSOL) à Escola de Veterinária e ao Hospital Veterinário, na manhã desta segunda-feira (19).

Sandra Goulart
De acordo com a reitora, a emissão de ruídos nas imediações da prova atingiu picos de 100 decibéis
Foto: Jebs Lima | UFMG

“Ainda contabilizaremos a perda dos recursos que o governo federal destina aos atendimentos na Faculdade de Odontologia [feitos pelo SUS], no Hospital Universitário [cerca de 100 por dia] e o Laboratório de Análises da Qualidade do Leite, da Escola de Veterinária [único em Minas Gerais credenciado pelo Ministério da Agricultura], pois tivemos que fechar esses espaços para a realização da prova de automobilismo”, acrescentou a dirigente.

Poluição sonora
De acordo com Sandra Goulart, a emissão de ruídos durante as corridas atingiu a faixa de 100 decibéis — marca que ultrapassa o limite recomendado tanto para zonas residenciais (70 decibéis) quanto para hospitais, incluindo os veterinários (55 decibéis). “Os dados foram reunidos por especialistas da UFMG das áreas de Música, Arquitetura e Engenharia e serão apresentados ao Ministério Público”, informou. A reitora lembrou que os organizadores da Stock Car cercaram a área com uma espuma preta – erroneamente chamada de barreira acústica, mas que não passava de um anteparo visual – que separava a pista da Escola de Veterinária “Ela tampa a visão, mas não impede qualquer ruído”. 

A dimensão das consequências da Stock Car para as pesquisas em andamento na UFMG, segundo Sandra Goulart, ainda será mensurada. “Nos laboratórios de pesquisas com peixes, vários morreram; no Biotério, onde são criados camundongos, ainda não sabemos a situação em que ficaram os animais; nos laboratórios onde são usados equipamentos sensíveis a vibrações, ainda não sabemos se as pesquisas foram afetadas ou invalidadas”, enumerou.

A Stock Car, como acrescentou Sandra Goulart, também provocou a paralisação das atividades do Centro Esportivo Universitário (CEU), que atende idosos e escolas infantis da cidade, e do Centro de Treinamento Esportivo (CTE), onde treinam atletas paraolímpicos. “Os impactos ocorreram antes e durante o evento e vão perdurar por mais tempo. O sentimento da comunidade, como um todo, é de indignação, por causa do desrespeito à UFMG que, desde o início, sustentou que esse não seria o lugar adequado para o evento.” 

Para a deputada Bella Gonçalves, “uma confluência de interesses muito poderosos" viabilizou a realização da Stock Car. “Os impactos são muito graves e já representam um ônus ao patrimônio público, por cujo ressarcimento vamos lutar”, disse a parlamentar. 

Beatriz Cerqueira:
Beatriz Cerqueira: audiência para debater o balanço do eventoFoto: Jebs Lima | UFMG

Desdobramentos
A Assembleia Legislativa planeja promover uma audiência pública para apresentar e debater o balanço sistematizado de todos os impactos e prejuízos sofridos pela UFMG e pelos moradores e comerciantes da região, garantiu a deputada Beatriz Cerqueira, presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia do parlamento mineiro. “Novamente, chamaremos, além dos representantes da Prefeitura, os organizadores da Stock Car. Eles foram convidados para as audiências anteriores, na ALMG, mas decidiram não comparecer. É uma atitude lamentável por parte de quem desejava fazer um empreendimento na cidade”, acusou.

Beatriz lembrou que o contrato com a Stock Car prevê a realização de mais quatro eventos em Belo Horizonte, até 2028, e que a prova deste ano ocorreu sem licenciamento ambiental. “A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG vai continuar acompanhando e produzindo informações técnicas, protegendo a ciência e chamando os organizadores e a administração pública para o diálogo, a fim de demonstrar que tudo foi ilegal e irregular, e precisa ser revisto.”

No mesmo sentido, Sandra Goulart assegurou que a Universidade continuará à disposição do poder público para ajudar a definir um local mais apropriado para o empreendimento. “A gente quer que o evento aconteça, mas de forma responsável e ética, levando em consideração não apenas a universidade que está ao lado, mas também os moradores e comerciantes. É preciso respeitar a cidade e as pessoas. Queremos trabalhar juntos para construir alternativas”, disse a reitora.

Durante a visita técnica das deputadas Beatriz Cerqueira e Bella Gonçalves, a reitora Sandra Goulart Almeida esteve acompanhada do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, do diretor da Escola de Veterinária, Afonso de Liguori, e da vice-diretora da Unidade, Eliane Gonçalves de Melo.

Matheus Espíndola